Os animais viviam confinados em uma pequena casinha de madeira na Quinta da Bela Olinda e, após serem resgatados, acabaram sendo submetidos à eutanásia no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).
Em nota, o CCZ alegou à reportagem que os gatos eram portadores de uma doença transmissível e que a eutanásia pretendeu evitar o prolongamento do sofrimento dos animais doentes.
O caso ocorreu na rua Carlos Linares Roda, no bairro Quinta da Bela Olinda. Segundo informações obtidas junto à polícia e a própria moradora que ajudava a manter os animais confinados, os gatos viviam trancafiados em duas casinhas de madeira. A maior possuía aproximadamente 1,5m de largura por 2,5m de comprimento.
“O pessoal abandona os gatos aqui e a turma acabava matando com veneno. Tínhamos dó dos bichinhos. Se a gente soltava, eles matavam”, alega a dona de casa Maria das Graças Boschette, 64 anos.
Com a alegação de tentar evitar a matança no bairro, a mulher contou ao JC que, há um ano, ela e seu filho de 43 anos, Carlos Boschette, resolveram manter os animais fechados nas pequenas casinhas de madeira, construídas por ele com restos de tábuas e papelão em um terreno ao lado da casa da família.
“De vez em quando nós soltávamos eles. Todo dia meu filho trazia comida. Ele limpava a casinha, pelo menos, três vezes por semana”, completa a mulher.
Apesar das alegações, a situação dos animais no local originou uma denúncia à Polícia Civil, que junto à ONG S.O.S. Gatinhos, compareceu ao local. No dia 11 de setembro, o CCZ foi oficiado para que tomasse as providências necessárias quanto ao recolhimento dos animais.
“Visualizamos uma situação de confinamento. O espaço era pequeno, fechado e batia sol direto. Até entendemos a atitude dos moradores, mas os animais não poderiam ficar confinados daquela forma”, ressalta o delegado do 1º Distrito Policial (DP), que apura crimes ambientais, Dinair José da Silva.
Ainda segundo o delegado, a medida de acionar o CCZ foi tomada após a informação de que a única ONG (organização não-governamental) da cidade que receberia animais oriundos de maus-tratos estava superlotada e não teria como acolher os gatos.
Eutanásia
Após receber a demanda da polícia, o CCZ, órgão ligado à prefeitura, foi ao local e recolheu os gatos, que no mesmo dia passaram por avaliação veterinária e acabaram sendo sacrificados no órgão.
“Verificou-se que os mesmos eram portadores de Síndrome Respiratória Felina. A eutanásia seguiu critérios específicos para este procedimento e também para evitar o prolongamento do sofrimento dos animais, que estavam extremamente debilitados por conta da doença”, diz a Divisão de Vigilância Ambiental em nota oficial enviada ao JC.
Ainda de acordo com a Vigilância Ambiental, a doença é extremamente transmissível, podendo contaminar os animais disponibilizados para adoção no CCZ.
Segundo o delegado Dinair José da Silva, o ofício enviado pelo CCZ à polícia informa ainda que os 23 gatos recolhidos – 11 fêmeas e 12 machos – foram fotografados e registrados no órgão antes de serem mortos.
Ao saber da morte dos animais, Maria das Graças demonstrou surpresa e lamentou a situação. “Achei que os gatinhos iriam para alguma ONG, e não que iriam ser mortos. Alguns estavam com sarna, mas outros estavam bem”, diz.
Serviço
Denúncias sobre envenenamento, maus-tratos e outras situações que envolvam animais devem ser comunicadas à polícia pelo telefone (14) 3238-7377.
Sobre o caso ocorrido na Quinta da Bela Olinda, o delegado Dinair José da Silva informa que ainda nesta semana pretende oficiar os responsáveis pelos supostos maus-tratos aos cerca de 30 gatos, que se condenados, poderão ser submetidos à pena de 3 meses a um ano de detenção, mais multa.
A morte em massa dos animais no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), entretanto, também deverá ser alvo de investigação da polícia.
“Não somos veterinários e nem médicos, mas alguns gatos pareciam saudáveis no dia”, comenta o delegado, enfatizando que pedirá ao órgão o laudo veterinário com a causa da morte para ser anexado ao processo. “Vamos solicitar o laudo e ouvir o veterinário também”, completa.
Síndrome felina
De acordo com a veterinária Ana Paula Guerra, a Síndrome Respiratória Felina é causada por um vírus que ataca o sistema respiratório e gera a queda da resistência em gatos e, em alguns casos, pode levar o animal à morte em menos de 15 dias.
O gato portador da síndrome apresenta tosse, secreções, gengivite e pode contrair pneumonia. “Em animais adultos até existe controle, dependendo do grau da doença. Mas se o animal estiver com imunidade baixa e outros problemas, como subnutrição e não for bem cuidado, a doença tem mais chance de evoluir para o óbito”, explica a veterinária.
Segundo Ana Paula, a síndrome coloca em risco os felinos e representa perigo de contaminação aos seres humanos e outras espécies somente se houver a presença de uma bactéria chamada clamídia. De acordo com ela, o tratamento da doença em estágio inicial é realizado por meio da administração de antibióticos, imunoestimulantes e vitaminas.
Fonte: JCNet
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